espaço-tempo figital

como o espaço-tempo figital influencia a tomada de decisões nas organizações?


há cerca de 30 anos, o mundo vem passando por uma grande transição de um mundo offline para um mundo onde o online e o offline se integram. um mundo físico [infraestrutura, edifícios, objetos e o ambiente] ampliado pelo digital [software] e orquestrado pelo social [relações, discursos e práticas sociais] constituindo o novo espaço-tempo figital.


o espaço figital tem mudado de maneira intrínseca as dinâmicas de funcionamento das organizações. as pessoas não estão mais nos mesmos lugares, estão agora distribuídas em redes, dispersas no espaço e no tempo. decisões não apenas podem, mas passaram a precisar ser tomadas de maneira remota e assíncrona. neste cenário, a palavra escrita é a verdadeira máquina do espaço-tempo.


as organizações, que existiam apenas na dimensão física com algum suporte digital, começam a descobrir que os mecanismos de interação que estavam usando para que as pessoas colaborassem no dia a dia dos negócios, talvez, nunca tivessem sido realmente adequados. 


no espaço-tempo figital, as colaborações vem sendo operadas, em grande parte, através de plataformas que mimetizam ambientes físicos de interação. tais mecanismos estão cada vez mais obsoletos. a percepção de que não funcionam, nem os físicos e muito menos seus simulacros, segue amadurecendo e, durante a pandemia de covid19, deu um enorme salto evolutivo.


está em curso uma transição cultural nos negócios que traz consigo novas formas de pensar e agir em todas as facetas das organizações. as que vão se transformar de forma competitiva, escalável e sustentável não serão necessariamente as que têm mais recursos – físicos, financeiros ou humanos, mas sim as que conseguirem decidir de forma mais ágil, colaborativa e criativa, tratando redes de pessoas como instâncias essenciais para tomar decisões estruturantes.


o que são colaborações criativas?


a colaboração criativa é um processo de ideação propositiva que busca desenvolver decisões criativas e inovadoras de forma coletiva e não hierarquizada. durante o processo, todos os integrantes de uma rede de pessoas são provocados a compartilhar suas hipóteses divergentes, alinhadas com as experiências e talentos individuais para em seguida iniciarem um fluxo de debates de transformações emergentes que apontam convergências estruturantes.


o que são comunidades de práticas criativas?


uma comunidade de práticas criativas é uma rede de pessoas engajadas, que diante de uma situação qualquer no dia a dia das organizações se unem para construir conhecimento em torno da questão, desenhar e executar uma estratégia a ela endereçada.


as comunidades de práticas criativas são o berço da transformação nas organizações. 


o conhecimento construído nesses meios é resultado de um processo contínuo de aprendizado colaborativo, fruto da contribuição de indivíduos com variadas expertises e perspectivas. sempre de valor muito maior que a simples soma das contribuições individuais, o resultado final é saldo de redes de aprendizagem iterativa, onde o conhecimento compartilhado cresce e transforma o entorno.


quais as principais dinâmicas que promovem colaborações criativas?


olhando a partir de uma perspectiva abstrata, o processo de colaborar criativamente pode ser definido a partir dos princípios do pensamento do design propostos por john chris jones na década de 1960: divergir para propor alternativas, emergir para transformar alternativas e convergir para escolher alternativas.


nessa perspectiva, é preciso: envolver o maior número de pessoas em dinâmicas de divergência, garantindo a geração de alternativas; engajar pessoas para debater em dinâmicas de emergência transformando as alternativas propostas; e, integrar as pessoas em dinâmicas de convergência, garantindo o espaço decisivo a todos os participantes da rede de colaboração criativa.


o que são dinâmicas de divergência?


as dinâmicas de divergência são processos fundamentais na colaboração criativa. é através delas que o grupo vai propor hipóteses para tratar uma determinada situação, sem seguir nenhuma regra específica ou limitação. o objetivo é criar um panorama de possibilidades, composto por opiniões diversas e reunindo o maior número de alternativas.


na dinâmica de divergência os integrantes da rede de pessoas participam, com igual representatividade, sugerindo hipóteses construídas a partir do seu conhecimento e das suas experiências.


o que são dinâmicas de emergência?


nas dinâmicas de emergência as pessoas devem debater hipóteses propostas considerando argumentos a favor e contra as  alternativas compartilhadas.


nessa fase do processo de colaboração criativa as hipóteses são transformadas por associação, por exclusão ou por adição de argumentos que emergem dos debates. o objetivo aqui é transformar as propostas individuais em hipóteses coletivas para que todos possam então seguir para a próxima etapa do processo: a fase de convergência.


o que são dinâmicas de convergência?


a dinâmica de convergência é o arremate de um processo de colaboração criativa e tem o propósito inverso à fase de divergência. a meta aqui é reduzir o número de alternativas a partir de critérios e parâmetros objetivos e subjetivos. tal qual na divergência, a opinião de todos tem igual peso e valor.


após terem debatido, as pessoas precisam escolher as hipóteses preferidas entre as tantas propostas, para depois entre elas validar as escolhas coletivas. o objetivo aqui é encontrar consensos.


quais os tipos de interação em colaborações criativas?


em artigo publicado em janeiro de 2022, a mckinsey aponta o excesso de interações desordenadas como o desafio a ser superado para que organizações consigam explorar comunidades de colaborações criativas de maneira produtiva e com a velocidade assertividade necessárias ao sucesso de seus negócios.


no mesmo artigo, os autores mapeiam três tipos de interações que  consideram críticas para as organizações:


interação para tomada de decisões, que podem ser de natureza simples e rotineira para apoiarem a operação do negócio, ou complexas, que demandam debates mais estruturados e têm como resultado decisões estruturais para a organização;


interação para criação de soluções inovadoras, que podem ser incrementais para melhorar produtos, serviços e processos existentes, ou ruptivas, que têm por objetivo gerar novos produtos, serviços e processos;


interação para compartilhamento de informações, que podem ser de natureza unilateral quando o conteúdo compartilhado não é debatido explicitamente com as pessoas, ou bilateral, onde o conteúdo compartilhado é debatido em redes de pessoas;


além dos três tipos propostos pelos autores, em nossa experiência com a plataforma strateegia, identificamos um quarto tipo


interação para aprendizagem estratégica. o propósito desse tipo de interação é levar redes de pessoas a aprenderem, colaborando, tópicos estratégicos para a organização.


quais as plataformas para colaborações criativas?


no contexto do espaço-tempo figital as organizações aprenderam, e continuam aprendendo, a expandir os espaços físicos através de plataformas digitais para os mais diversos fins, inclusive para dinâmicas de colaborações criativas, realizadas cada vez mais de maneira remota, ainda mais nas organizações de grande porte onde colaboradores estão espacialmente distribuídos.


a pandemia de covid19 acelerou esse movimento, com um catalisador de futuro, e trouxe o trabalho remoto para a realidade de muito mais gente. nesse big bang de transformações, surgiram ou ganharam evidência, um conjunto de plataformas que se complementam como instrumentos de colaboração estratégica nas organizações:


plataformas que simulam os quadros brancos nas paredes das organizações, como o miro, mural e jamboard, ganharam muita visibilidade por apoiarem as pessoas a propor hipóteses de maneira visualmente estruturada;


plataformas que simulam as salas de reunião das organizações, como o zoom, teams e google meet, apesar de já existirem há muito tempo, passaram, de ferramentas interessantes para a principal ferramenta para debater hipóteses oralmente nas organizações;


plataformas que simulam os corredores das organizações, como o whatsapp e slack, onde grupos de pessoas mantém debates assíncronos para escolher hipóteses, algumas vezes como uma continuidade dos debates síncronos das salas de videoconferência. como nos corredores, o diálogo aqui acontece de maneira desordenada, desestruturada; e,


plataformas que simulam as pranchetas de pesquisa de opinião, como o typeform, fastfield e google forms, onde pessoas montam formulários para que outras pessoas possam validar as escolhas das hipóteses resultantes de debates de colaboração criativa.



esse texto foi produzido por maria duda belém a partir de outros textos dos professores silvio meira e andré neves


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